O consumo de glutamina auxilia na imunidade?

O consumo de glutamina auxilia na imunidade?

A glutamina é o aminoácido mais versátil e abundante do corpo humano. Ela participa de diversas funções biológicas importantes, como produção de energia, proliferação celular, manutenção do equilíbrio ácido-base, regulação da expressão de genes associados ao metabolismo, entre tantas outras. Apesar das funções e da importância da glutamina para o corpo estarem bem consolidadas, um ponto ainda muito discutido pela ciência é se o consumo de glutamina auxilia na imunidade.

Sabe-se que, embora a glicose seja o principal combustível para a maioria das células do corpo, as células do sistema imunológico frequentemente precisam atuar em ambientes com restrição de nutrientes (incluindo a glicose). Por isso, acabam contando com a glutamina em cenários mais catabólicos para funcionarem. 

Na saúde e, principalmente na doença, a glutamina é consumida pelas células do nosso sistema imune em taxas bastantes semelhantes a da glicose. Isso, por si só, já nos leva a entender sobre o importante papel que a glutamina tem para a imunidade, não é? Mas, em quais cenários o consumo de glutamina seria de fato relevante para o nosso sistema imunológico? A seguir, vamos esclarecer o que você precisa saber sobre essa surpreendente relação.

O que é a glutamina?

A glutamina é um aminoácido, ou seja, uma fração de uma proteína, considerada não essencial porque o nosso organismo é capaz de produzi-la sozinho a partir de outros aminoácidos.

Ela é conhecida pela capacidade de servir como fonte de combustível para os enterócitos (células das paredes intestinais), hepatócitos, neurônios, células do sistema imune e para as células β do pâncreas. 

Quantitativamente, o tecido que mais sintetiza, estoca e libera glutamina é o tecido muscular esquelético, em conjunto com outros dois órgãos de função metabólica do corpo: o fígado e o intestino. Por isso, a glutamina está presente nos alimentos fontes de proteína, como as carnes, ovos e leite.

A síntese de glutamina

Ela é sintetizada pelo nosso próprio corpo a partir do consumo e da quebra das proteínas no processo de digestão. O glutamato é o aminoácido mais presente nessa síntese, responsável por 40% da produção de glutamina. Isso significa que o consumo adequado de proteínas é fundamental para que essa síntese aconteça – e isso é um ponto de atenção a ser levado em consideração em grupos que tradicionalmente têm um consumo baixo de proteínas, como é o caso dos idosos.

Glutamina e imunidade: a relação

Nutricionalmente falando, alguns estudos classificam a glutamina como um aminoácido condicionalmente essencial. Isso porque, em situações catabólicas, como traumas clínicos, infecções, sepse, câncer, queimaduras, exercícios prolongados e exaustivos (como uma maratona), a produção endógena de glutamina pode não ser suficiente para atender a demanda corporal.

Para o corpo ter suas demandas de glutamina devidamente supridas e funcionar de forma adequada, há duas opções:

  1. Produzir glutamina (desde que haja a ingestão apropriada dos 8 aminoácidos essenciais pela dieta);
  2. contar com a glutamina proveniente da alimentação ou do suplemento de glutamina em pó.

Quando há um alto nível de catabolismo tecidual, que leva à baixa concentração de glutamina nos órgãos que a sintetizam (músculo, fígado e intestino), um grande número de vias metabólicas e mecanismos dependentes da glutamina são afetados, resultando na redução da eficiência do sistema imunológico.

Outro ponto importante sobre a relação entre a glutamina e a imunidade é que o aminoácido é altamente demandado pelas células imunes. Ele participa de processos, como a proliferação de células T, diferenciação de células B, fagocitose, apresentação de antígenos e produção de citocinas. Todos esses processos ocorrem quando o sistema imune é ativado e precisa nos defender de patógenos.

Situações em que pode "faltar glutamina" no corpo

Em condições fisiológicas normais, a glutamina é produzida pelo corpo em quantidades adequadas, porém, há situações em que pode “faltar glutamina”, que é quando a necessidade corporal supera a capacidade de síntese do corpo. É em cenários como esse que a suplementação de glutamina na dieta pode se tornar necessária, já que a disponibilidade de glutamina plasmática contribui diretamente para o comprometimento da função imunológica em várias condições clínicas.

A faixa normal de glutamina plasmática é de 500-750 µmol / L. Um treinamento físico pesado pode levar à redução do nível de glutamina plasmática, abaixo de 500 µmol / L, assim como certas condições patológicas que promovem um estresse catabólico, que podem levar os níveis de glutamina intracelular cair abaixo de 50% e a concentração plasmática abaixo de 30%. É por isso que a suplementação desse aminoácido é amplamente utilizada em hospitais, em pacientes que estão em estado crítico ou até mesmo para uma recuperação cirúrgica. O consumo de glutamina auxilia na imunidade pelo simples fato de que as células imunológicas dependem, em grande parte, da disponibilidade de glutamina para sobreviver, funcionar e proliferar. Especialmente em cenários catabólicos, a demanda por esse aminoácido aumenta de forma drástica, podendo levar a um grave comprometimento da função imunológica do organismo.

Glutamina, imunidade e intestino

Já está bem consolidado que a saúde intestinal tem um papel crucial na imunidade, pois a integridade da barreira do intestino é a grande protagonista na absorção de nutrientes. Além disso, ela é essencial na função de, literalmente, barrar o que não deve entrar na nossa corrente sanguínea. É por essa razão que uma disfunção da barreira intestinal está associada ao aumento da permeabilidade que pode acarretar no desenvolvimento de diversas doenças gastrointestinais, disbiose intestinal, alergias, intolerâncias alimentares e piora geral da imunidade.

O intestino é capaz de metabolizar grandes quantidades de glutamina fornecidas pela dieta. A glutamina é, inclusive, mais relevante quantitativamente do que a glicose como substrato energético para os enterócitos (principais células epiteliais do intestino). 

Outro ponto relevante sobre o papel da glutamina na saúde intestinal é que ela tem potencial para reduzir a produção de citocinas pró-inflamatórias. Essa desregulação da produção de citocinas tem função importante na patogênese da doença inflamatória intestinal. Isso revela que a glutamina pode ser útil para modular condições inflamatórias decorrentes da produção desequilibrada de citocinas.

E então, como o consumo de glutamina auxilia na imunidade?

Auxiliando as células imunológicas a trabalharem nas condições ideais. Pois para essas células sobreviverem, proliferarem, e nos protegerem, elas dependem, em grande parte, da disponibilidade de glutamina – que é produzida endogenamente e também pode ser oferecida por alimentos fontes de proteína ou suplementos. 

As propriedades imunológicas da glutamina e, principalmente a relevância da sua suplementação, têm sido amplamente estudadas e novas perspectivas são continuamente descobertas e formuladas pela ciência.

Continue lendo sobre o assunto em: 

GLUTAMINA: CONHEÇA 4 ALIMENTOS QUE CONTÊM ESSE AMINOÁCIDO

Referências

Conteúdo escrito por Rafaela Galvão, publicitária pela ESPM-SUL e estudante do 6˚semestre de nutrição na Unisul. Desenvolve projetos de comunicação e produção de conteúdo para área da saúde desde 2016.

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